O Perfeccionismo
Buscar perfeição no trabalho é uma conduta preocupante, pois geralmente inalcançável, desta forma, pode transformar o trabalho numa fonte geradora de ansiedade ou estresse. O ser humano sofre consciente ou inconscientemente com suas fragilidades, adoecimentos, perdas e a finitude. Alguns, para tentar fugir dessas angústias que a vida nos impõe, tentam se mostrar muito potentes, ou melhor, onipotentes ou perfeccionistas.
A pessoa que busca o perfeccionismo no trabalho, provavelmente não terá bom desempenho, além de castrar a criatividade dos seus pares. O perfeccionista costuma ter uma personalidade na linha obsessiva. Este perfil de funcionamento psíquico, vai na contramão da criatividade, leveza e produtividade laboral. Os colegas e colaboradores que acompanham um perfeccionista, tendem a se afastar ou boicotá-lo, pois a participação ou opinião dos seus parceiros nunca é valorizada. A régua do perfeccionista sempre está muito elevada.
O perfeccionista está fadado ao sofrimento e ao esgotamento, pois quando se aproxima da “dita perfeição”, percebe que ainda está muito distante dela, e assim, recomeça o ciclo vicioso. Em outras palavras, o perfeccionista sempre será um eterno insatisfeito. Ele tem um grau de exigência consigo mesmo intenso, mas não se apercebe deste fardo pesado que carrega inconsciente. Tenta se liberar colocando estas exigências no ambiente externo. Se parece com o sujeito que tem como meta única na vida ser milionário. Quando alcança está meta, percebe que vive um vazio interior e aumenta a meta, assim por diante…
Penso que não devemos almejar perfeição em nada da vida, pois por natureza, somos seres imperfeitos, limitados, frágeis. Talvez o melhor diante do trabalho é percebermos nossas capacidades e limitações e podermos dividir com os parceiros onde não nos saímos bem. Podemos acrescentar nesta percepção de nossas qualidades e defeitos, um espaço interno para ouvir, ponderar e pensar sobre as observações e feedbacks dos nossos pares. Talvez esta pode ser uma “grandeza” do ser humano: acolher as ofertas dos que nos cercam, no sentido de pensar e elaborar.
Este tema proposto pelo LinkdIn para reflexão, faz parte de muitos outros que são o substrato para que tenhamos mais intimidade com nossa vida emocional ou alma, ou seja, mais Saúde Mental. Na entrada do Templo de Apolo em Delfos, na Grécia, estava escrito: “ Conheça-te a ti mesmo”! Ainda vale esta máxima nos dias atuais. Para tentar nos conhecermos, precisamos intuir, ouvir, pensar, escutar, elaborar e depois, tentar oferecer aos que nos cercam nossas narrativas. Vivemos atualmente alardeando a importância de investirmos em Saúde Mental nas instituições! Ninguém tem a fórmula pronta para transferir Saúde Mental. Saúde Mental, não é o mesmo do que não ter Doença Mental.
Nelio Tombini
Psiquiatra, psicoterapeuta, psicoeducador
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