Você tem Nomofobia?

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Muitos de nós buscamos a todo o momento facilidades que nos auxiliem na nossa rotina. Queremos resolver as coisas de forma mais simples e sem muitas dificuldades. Quem de nós nunca se deparou com uma situação de desconforto ao se dar conta que havia esquecido o celular em casa ou que a bateria estava acabando e não possuíamos um carregador disponível por perto?

O uso de smartphones tem sido o meio mais utilizado para acessar a internet atualmente e não para por aí, o aparelho traz muito além da câmera fotográfica e filmadora de alta resolução, possibilita acesso aos e-mails e redes sociais, pesquisas on-line, visualização de filmes e programas de TV, músicas, realização de transações financeiras e diversas outras ações. Tudo parece muito bom olhando por esse lado, o problema começa a surgir quando começamos a sofrer desconforto ou angústia resultante da incapacidade de acesso à comunicação através de aparelhos celulares ou computadores. Chamamos esse tipo de dificuldade de Nomofobia que tem origem nos diminutivos do inglês No-Mo, ou No-Mobile, que significa Sem telemóvel, daí a expressão Nomofobia,  a fobia de ficar sem um aparelho celular.

Sintomas da Nomofobia:

As pessoas com uso problemático do celular apresentam diversos sintomas muito parecidos com a dependência de drogas:

  1. Fissura:
  • usa o telefone celular para se sentir melhor, quando está para baixo;
  1. Abstinência:
  • quando não está com o aparelho fica preocupado e ansioso em perder chamadas ou mensagens;
  • acha difícil desligar o aparelho em situações obrigatórias, como no avião ao decolar;
  1. Consequências negativas para a vida:
  • atrasa em compromissos por ficar muito tempo no celular;
  • gasta valores elevados na compra do aparelho e nas contas;
  • ocupa-se demasiadamente com o celular quando deveria estar fazendo outras coisas;
  • a produtividade no estudo e/ou trabalho reduz como resultado direto deste padrão de uso;
  • recebem mais multas e envolvem-se mais em acidentes de trânsito;
  1. Perda de controle:
  • os amigos ou familiares reclamam do padrão de uso do celular, podendo atrapalhar os relacionamentos;
  • permanecem conectados ao celular por períodos muito maiores do que gostaria;
  1. Tolerância:
  • aumento progressivo no tempo que fica usando o celular;
  • incapacidade de gastar menos tempo usando o aparelho;

Uma das questões mais preocupantes é o uso dos smartphones de forma cada vez mais precoce por milhões de crianças e adolescentes com acesso livre, total e irrestrito. O que pode causar uma dependência precoce gerando consequências psicológicas a longo prazo. O que podemos esperar desses futuros adultos? É provável que apresentem ansiedade, depressão e sintomas de impulsividade, ou seja, que tenham pouca qualidade de vida. Além de falta de habilidade nos relacionamentos interpessoais, com dificuldade no estabelecimento de vínculos de amizade e/ou afetivos. Assim, essas conexões pessoais possuem poucas chances de serem plenas e duradouras.

Por que será que este fenômeno é tão comum na atualidade? A internet e a globalização da informação trouxeram avanços importantes e benefícios para todos nós. Porém, é possível perceber que muitos pais colocam os filhos em contato com celulares, tablets entre outros dispositivos eletrônicos precocemente por falta de habilidade ou tempo para dedicar a eles. Dessa forma, os pais esperam que a demanda por carinho e atenção seja suprida. E aí está o perigo, pois as crianças vão se suprindo com este entretenimento que pode viciar e acabam não demandando os pais. É possível fazer uma analogia: é como se deixássemos bolos e doces saborosos para que as crianças pudessem se alimentar quando estivessem com fome. Dentro de alguns anos todas estariam obesas, intoxicadas desta pseudo-alimentação. Pois, os pais são cada vez mais demandados por uma sociedade que impõe alta competitividade. Enquanto as mulheres buscam conquistar mais espaço no mercado de trabalho.

As teorias psicanalíticas apontam a ansiedade de separação como algo muito angustiante nas crianças, ou seja, medo de sair de perto dos pais, de ir à escola, dormir na casa de colegas e etc. Dentro desse aspecto pode-se pensar que talvez algumas pessoas considerem que esses aparelhos têm a função “fictícia” de suprir esta ansiedade de separação, pois as crianças ficariam grudadas nos seus “pais adotivos”, por exemplo, smartphones e tablets. Nesse caso, as crianças não sofreriam com a ausência dos pais verdadeiros. Enquanto, estes tocam suas vidas, e não estão à disposição dos filhos a todo o momento, por sua vez os smartphones são controláveis e estarão sempre ao lado dos pequenos, inclusive pela vida adulta.

Por isso, podemos entender que a Nomofobia pode estar ligada ao desejo de “pertencimento” que estes meios eletrônicos oferecem. Com as redes sociais temos a impressão que somos queridos, temos muito amigos e que virtualmente estamos efetivamente próximo a eles. Ao contrário disso as relações on-line mostram a nossa dificuldade de estabelecermos vínculos, nos relacionar e ter intimidade com as pessoas. Dessa forma, podemos estar criando uma geração de fóbicos sociais, pessoas que não conseguem chegar perto uma das outras.

Então, caso você tenha se identificado ou percebido essa dificuldade em algum familiar ou amigo não a subestime. Provavelmente, existe um sofrimento intenso que está dificultando o seu bem estar e desempenho. Por isso, é interessante ouvir a opinião de um profissional da área para avaliar a situação e quem sabe a partir disso se oferecer outra forma de perceber os conflitos e impasses.

Ana Carolina Tombini
Psicóloga – Especializada em Infância e Adolescência
CRP – 07/12371


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