Como proteger as crianças dos pedófilos

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A pedofilia é um problema muito maior do que imaginamos. Os casos de pedofilia denunciados não devem representar mais do que dez por cento dos abusos sofridos. Este trauma desenvolve um adoecimento mental em cascata, pois quando os abusados crescem, provavelmente terão dificuldades de aproveitarem a vida afetiva e sexual, bem como, de relacionarem-se intimamente com as pessoas.

As meninas são as maiores vítimas. A criança, além de sofrer pelo abuso, sofre também em decorrência do temor de revelar esse terrível segredo, pois o abusador, geralmente, faz ameaças para que não revele a ninguém. Outra dificuldade presente decorre do temor da criança de falar sobre o abuso e não acreditarem nela. Quando consegue contar o trauma ocorrido corre o risco de a mãe não acreditar que o pai ou algum outro adulto próximo estariam abusando-a. O pior é  quando a criança escuta do(s) pai(s) que ela também foi responsável pelo abuso, pois sua maneira de ser, falar ou vestir-se provocou o abusador.

Esse tema tem sido alvo de muita divulgação e discussão, mas os pedófilos estão inseridos no nosso dia a dia e não conseguimos perceber suas presenças, já que, na maioria das ocorrências, são pessoas muito próximas e dissuadidas.

Costumamos falar precocemente aos nossos filhos sobre os cuidados relacionados com os riscos inerentes ao viver, tais como: o fogo, animais, eletricidade, trânsito e com os tipos de coisas que não devem comer, ingerir, tocar, etc. Por outro lado, não fazemos alertas sobre cuidados com sua privacidade e intimidade corporal.

Por isso, desejo enfocar nesse artigo a necessidade de educarmos as crianças para que possam ter alguma proteção contra os pedófilos. Por que não nos lembramos de falar nos riscos de pessoas tocarem em seus corpos? Provavelmente, é porque somos cheios de preconceitos e tabus em relação à sexualidade, e assim, deixamos as crianças sem nenhuma proteção contra a pedofilia.

Estes ensinamentos podem iniciar-se em torno dos dois anos de idade. Devemos falar abertamente para as crianças sobre o aspecto “sacro e intocável” dos seus corpos. Sim, dizer claramente à criança que não deve deixar nenhuma pessoa tocar no seu corpo, acariciar ou tirar sua roupa. Na mesma linha, ensiná-las a não tocar no corpo de pessoas mais velhas ou ficar nuas com elas. A nossa cultura coloca as crianças no papel de uma pequena “deficiente mental”, ou seja, as tratamos como se elas não pudessem entender as coisas da vida.

Acredito que essa conduta fará a diferença, pois a criança estará mais aparelhada para detectar abordagens dessa natureza. Além do mais, ela sabe que poderá revelar ao pai ou a mãe algum abuso, sabendo que esse assunto não trará mal-estar na família, pois já foi falado abertamente.

É importante frisar, que o pedófilo sofre de uma doença mental grave e que, geralmente, ele não reconhece a presença dessa desordem mental, logo não acha que precise de tratamento. Também, é importante relatar que a psiquiatria não conhece claramente a origem dessa perversão. Lembro de um pedófilo que chegou a mim, em decorrência de pressões familiares e da justiça, mas que não mostrava sentimento de que precisasse de ajuda.

Vale lembrar outra maneira de diminuir a ação dos pedófilos. A possibilidade legal de optarem pela castração química, o bloqueio do hormônio masculino testosterona. Essa intervenção diminui o desejo sexual incontrolável do pedófilo. Pesquisas mostram que a reincidência de crimes sexuais cai de 75% para 2% após a castração química. Alguns países já usam essa alternativa para diminuir a pena aplicada ao pedófilo. Esse projeto está parado no Senado Brasileiro.

Dr. Nelio Tombini
Psiquiatra e psicoterapeuta
Diretor da Psicobreve


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