Minha tese sobre o filme: “Tese sobre um homicídio”

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Dr. Nelio Tombini escreveu um artigo sobre o filme, “Tese de um Homicídio“, estrelado pelo grande ator argentino Ricardo Darin. O entendimento do que efetivamente ocorreu no enredo do filme é controverso. As pessoas ficam muito reflexivas ao final do filme, tentando entender o que de fato se passou neste drama. O Dr. Nelio oferece uma visão sob o ponto de vista da psiquiatria para que vocês possam cotejar com suas percepções.

Gostaria de dividir com vocês o meu entendimento sobre este belo filme argentino, a Tese de um Homicídio. Não devem deixar de vê-lo, estrelado por Ricardo Darin.

O drama se desenvolve num espaço universitário, onde um professor de direito, muito graduado, exibe e se exibe de toda sua competência e saber. É badalado pelos alunos que fazem uma pós-graduação com ele. O mestre diz: vocês são uns privilegiados pelo fato de estarem aprendendo comigo. Já notamos aqui a grandiosidade e arrogância do mestre jurista. Nesta turma há um jovem advogado que badala o mestre, mas também compete abertamente com ele disputando o saber, enquanto isso os demais alunos só bajulam o professor.

Durante uma aula, escuta-se uma balbúrdia no pátio da universidade e todos correm a janela e presenciam o cadáver de uma jovem assassinada. A partir deste fato, o professor se envolve na investigação policial e desenvolve uma tese de que o assassino é este aluno brilhante que disputa os holofotes com o ele.

Escutei várias pessoas que assistiram ao filme e todas concordam com a tese do emérito mestre, de que o seu aluno matou aquela jovem. Eu gostaria de oferecer uma outra observação do belo enredo deste filme. Quando inicia o filme, Roberto, o jurista famoso (Darin), se encontra deitado num sofá e ao seu lado temos uma mesa de centro com uma garrafa de uísque vazia e caída sobre a mesa. Parece que não deu tempo de ir para a cama, talvez em decorrência do trago que tomou. Durante todo o filme, o diretor mostra o nosso grande advogado bebendo, habitualmente, uísque. A sua relação com o álcool é tão intensa que até ao tomar banho o copo de uísque lhe acompanha. O filme termina com Roberto colocando abaixo todos os livros de sua grande biblioteca, além de objetos que encontrava nas gavetas dos móveis, atrás de uma suposta pista que seu aluno teria deixado para incriminá-lo do assassinato da jovem. Na cena seguinte, exausto e debilitado deita-se no mesmo sofá da cena inicial do filme e ali aparece outra garrafa de uísque vazia.

Durante o filme a tese que Roberto desenvolveu no seu imaginário vai se concretizando. O diretor vai colocando cenas, que para nós não fica claro se são reais ou do imaginário de Roberto. Este é o ponto genial do filme. Algumas pessoas mais próximas de Roberto dizem que ele pode estar criando em sua mente todas estas coisas. Sugerem que ele pode estar fantasiando, em decorrência de estresse, já que tem muita dificuldade para dormir.

Por que ele criaria em sua cabeça todas estas hipóteses? Por uma razão bem simples, que para nós psiquiatras salta aos olhos! O diretor mostra claramente o grave alcoolismo de Roberto. Pessoas com grande ingesta e dependência do álcool podem apresentar um quadro de “psicose alcoólica”. Nestes casos existem delírios persecutórios, alucinações visuais e auditivas e um quadro grave de paranoia, o que explicaria toda a tese do professor em incriminar o aluno.

Claro que é muito difícil para o público leigo fazer estas associações, mas o filme tem este objetivo a meu ver. Alcoolismo é a dependência química mais séria no mundo inteiro, causando mais prejuízos a pessoa, família, sociedade e ao Estado. O doente normalmente encontra-se numa faixa etária mais avançada, onde tem filhos, atividade profissional e tudo isto é destruído pelo alcoolismo. Crack e cocaína são tão sérios que geralmente o usuário não alcança este patamar de desenvolvimento social, econômico e familiar, morre ou fica pelo caminho. A maconha também tem seus malefícios importantes, mas nada comparável ao alcoolismo.

Pensem nisto, e busquem mais informações sobre a “psicose alcoólica” para checarem se faz sentido a minha “TESE”.

Assista o trailer do filme em: youtube.com/watch?v=kOhFYEiJn2g

Nelio Tombini
Psiquiatra


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