Os estragos causados pela onipotência no nosso cotidiano
O ser humano acha que pode tudo diante da vida. Gosta de mandar em todos e espera que seus pensamentos e desejos sejam acatados quando expostos. Algumas pessoas exercem com maestria essa postura, aniquilando aqueles que os cercam. Pode ser na política, no trabalho, na família e nas relações amorosas.
Pais acham que sabem o que é bom para os filhos, dominando tão completamente suas vidas, a ponto destes crescerem na dependência total de seus genitores e se mostrarem, no decorrer da vida, incompetentes para cuidarem de si mesmos. Chefes “mandões” querem que seus funcionários os aplaudam e pensem como eles. Criam no seu entorno um grupo de seguidores mentirosos que nunca oferecem o que, realmente, sentem em relação a essa chefia e acabam boicotando o trabalho.
Fiz essas referências iniciais para me reportar ao que assisti no último Grenal. O treinador do Grêmio foi tomado pelo que considero um surto de “grandiosidade” e onipotência, que o autorizou a uma exposição muito constrangedora e danosa à sua equipe. Foi bater boca com o gandula, como se fosse o juiz do jogo. Acabou expulso e trouxe, a meu ver, prejuízo ao seu time. Ficou um clima confuso, enquanto o grupo de atletas passou a ser comandado ora por um jogador, ora pelo preparador físico. Após o jogo, o técnico, Luxemburgo, tentou explicar o inexplicável, relatando que toda aquela confusão não havia influenciado sua equipe.
Quando estamos tomados pela “grandiosidade” não conseguimos rever, sequer, reparar nossas atitudes, pois sempre projetamos nos outros a razão da nossa ação. Os outros serão os culpados e, assim, seguimos metidos nessas verdadeiras armadilhas que criamos dentro de nós.
Tenho a impressão de que grande parte dos treinadores são movidos por esses impulsos, de acreditarem saber tudo e desejarem controlar tudo. Chegam a dizer: ninguém se mete na escalação do meu time! Imaginem numa empresa, um diretor dizer que o presidente não se mete nas suas decisões? Talvez, perdessem o emprego na hora.
Luxemburgo é um grande treinador e parece ser uma boa pessoa também. Quero confessar que já fui tomado, muitas vezes, em minha vida, por posturas arrogantes, grandiosas e onipotentes.
Esse jeito pertence ao ser humano, todos estamos nessa parada. A diferença é que as atitudes dele aparecem na TV e causam estragos ao seu grupo, além de abatimento a milhares de torcedores.
As minhas, atingem um universo bem menor. Confesso, mesmo assim, que me envergonho quando elas me atropelam. Cada vez mais, fico de olho nesses meus impulsos e tento segurá-los, o que não é fácil. O que me acalma, no dia a dia, é que, por vezes, me dou conta que não sou tão importante quanto eu gostaria.
Penso que esse desejo de mandar, controlar, atrelado à onipotência é o maior responsável por danos emocionais e prejuízos nas relações pessoais e profissionais.
Dr. Nelio Tombini
Psiquiatra e Psicoterapeuta
Diretor da Psicobreve
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